Restaurando o alinhamento, a Estabilidade e Aliviando a Dor na Coluna Vertebral
A cirurgia de correção da espondilolistese de alto grau é uma intervenção especializada destinada a tratar deformidades significativas da coluna vertebral associadas a essa condição específica. Este texto aborda as indicações para o procedimento, o passo a passo da cirurgia, a recuperação pós-operatória, bem como os benefícios e riscos associados a essa técnica avançada.
Indicações
A espondilolistese de alto grau é uma condição em que uma vértebra escorrega para frente sobre a vértebra subjacente de forma acentuada. A cirurgia de correção é indicada quando a condição é sintomática, causando dor persistente, comprometimento funcional significativo, compressão nervosa ou quando abordagens conservadoras não proporcionam alívio adequado.
Passo 1: Avaliação e Planejamento
Antes da cirurgia, é realizada uma avaliação abrangente, incluindo exames de imagem detalhados, como radiografias, tomografia computadorizada e ressonância magnética, para avaliar a extensão da espondilolistese e planejar a estratégia cirúrgica mais apropriada.
Imagem evidenciando espondilolistese L5S1 grau II/III (escorregamento de 50% ou mais de uma vértebra por sobre a outra). É possível observar o espaço branco mais estreito na parte posterior das vértebras, local de compressão neurológica.
Passo 2: Posicionamento do Paciente
O paciente é posicionado na mesa cirúrgica de maneira a permitir o acesso adequado à coluna vertebral, levando em consideração a localização e a extensão da espondilolistese. Além disso, a decisão por realizar a cirurgia por uma única via ou por dupla via (anterior + posterior) faz parte do planejamento do posicionamento do paciente.
Passo 3: Incisões e Exposição Cirúrgica
Incisões são feitas na região das costas para expor a coluna vertebral (nos casos do acesso posterior) ou, adicionalmente, na região inferior do abdome (no caso do acesso anterior via abdominal). Os tecidos moles são cuidadosamente afastados para permitir a visualização das vértebras envolvidas na espondilolistese.
Passo 4: Fixação e Instrumentação
Parafusos e hastes são estrategicamente colocados nas vértebras para proporcionar estabilidade e servir como base para a correção da espondilolistese. Essa fixação é crucial para manter a correção ao longo do tempo. O disco desgastado no nível do escorregamento é retirado e substituído por um cage (espaçador), que tem como função aumentar a estabilidade local e promover a artrodese (fusão) entre as vértebras, garantindo a estabilidade de longo prazo da correção.
Imagem da escopia (radioscopia) utilizada dentro do intra-operatório para checar o posicionamento dos cages, dos parafusos e das hastes, além da conferência da redução do escorregamento entre as vértebras de L5S1.
Passo 5: Osteotomias e Correção da Discrepância
Em alguns casos, osteotomias (remoção cirúrgica de partes da vértebra) podem ser realizadas para facilitar a correção do escorregamento vertebral e das compressões neurológicas. A manipulação cuidadosa das vértebras é realizada para realinhar a coluna vertebral.
Passo 6: Enxertos Ósseos e Fusão
Enxertos ósseos, muitas vezes colhidos do próprio paciente ou de bancos de tecidos, são colocados entre as vértebras para promover a fusão óssea e manter a estabilidade. Dispositivos específicos podem ser utilizados para facilitar a fusão.
Passo 7: Fechamento das Incisões
Após a conclusão da correção e fusão, as incisões são fechadas com suturas, e um curativo é aplicado. É posicionado um dreno portovac que drena o sangramento profundo para reduzir o risco de formação de hematomas.
Recuperação Pós-Operatória
O tempo de recuperação pode variar, mas os pacientes geralmente permanecem hospitalizados por alguns dias (3 a 5 dias). O retorno às atividades laborais leves pode ocorrer após aproximadamente 6 a 8 semanas, enquanto atividades físicas mais intensas são gradualmente reintroduzidas ao longo de vários meses (em média após 3 a 4 meses da cirurgia). A fisioterapia é essencial para a recuperação, visando fortalecer os músculos das costas, ganhar amplitude de movimentação e otimizar a função da coluna vertebral. Quanto mais precoce inicia-se a fisioterapia, mais rápida será a recuperação.
Benefícios
Correção da Discrepância Vertebral: A cirurgia proporciona uma correção efetiva da espondilolistese de alto grau, realinhando a coluna vertebral.
Alívio da Dor: Muitos pacientes experimentam alívio substancial da dor associada à espondilolistese após o procedimento, principalmente as compressões neurológicas.
Restauração da Estabilidade: A fixação e fusão óssea proporcionam estabilidade duradoura à coluna vertebral, prevenindo a progressão da deformidade.
Complicações Gerais
Como em qualquer cirurgia, existem riscos de complicações, incluindo infecção, sangramento e reações à anestesia. Para reduzir os riscos de infecção, são utilizados antibióticos durante toda a internação e após a alta hospitalar. Para redução do sangramento, a técnica cirúrgica aprimorada junto com uma hemostasia (coagulação) adequada reduzem esse risco. A transfusão de sangue pode ser necessária durante a cirurgia ou nos dias seguintes, sendo realizado conforme necessário. Reações alérgicas ou às medicações anestésicas tem seu risco reduzido através da investigação do histórico de alergias.
Pseudoartrose
A falha na fusão óssea (pseudoartrose) é uma complicação possível que pode exigir revisão cirúrgica. Com a técnica adequada, esse risco é bastante baixo.
Lesões Nervosas: Dada a complexidade do procedimento, há um risco mínimo de lesões nervosas, embora seja raro com uma técnica cuidadosa.
A cirurgia de correção da espondilolistese de alto grau é uma abordagem eficaz para tratar deformidades significativas da coluna vertebral associadas a essa condição específica. No entanto, é crucial que os pacientes discutam detalhadamente com seu ortopedista sobre as indicações específicas, benefícios e riscos antes de optarem por esse procedimento, garantindo uma tomada de decisão informada e personalizada.